Na liturgia Jeje-Nagô, a
saudação a esse orixá é Ẹrú Iyá, que
significa, Mãe dos escravos”. Talvez a história de Iemanjá explique a
identificação desse maravilhoso Orixá com aqueles que sofrem.
O livro do
seminal “Awọn Àṣà ati Orìṣà Ilẹ
Yoruba” [ Tradições e Orixás da Terra Iorubá], escrito pelos professores
Olu Daramola e Adebayo Jeje, e publicado pela primeira vez em 1967, nas páginas
247 a 249, conta a história de Iemanjá.
Nessa narrativa, Aginju e
Iemanjá são filhos nascidos do casal Obatalá e Oduduwa, onde Obatalá é o pai e
Oduduwa é a mãe. Obatalá na condição de Orixanlá vem a ser o líder de todos os
Orixás masculinos enquanto Oduduwa seria a líder de todos os Orixás femininos.
Essa narrativa, inclusive, contraria a maioria das versões orais sobre os
Orixás, nas quais Odudua seria um Orixá masculino, pais físico de todos os
Iorubá e fundador da cidade sagrada de Ile-Ifé.
No dicionário “The First Ilustrated Yoruba Dictionary” [Primeiro Dicionário
Ilustrado Iorubá] página 10, o verbete Aginjù
tem como texto explicativo: Aginjù
(n.) “1. desert, 2. wildernes, 3.
uninhabitated land [ tradução: Aginjù (substantivo.) "1. deserto, 2.
região selvagem, 3. terra desabitada].
O povo Iorubá, como uma
grande variedade das culturas africanas, é marcadamente uma civilização formada
com base no aprendizado direto dos processos da natureza. É por isso que, com
relação a Aginju, se acredita que, maravilhados com a autonomia, a pujança, e a
capacidade de restauração da vida nas matas e floresta, os Iorubá passaram a
adorar Aginju, rendendo-lhe culto e homenagem. Em outros segmentos étnicos
dentro dessa mesma cultura, o orixá Ilẹ [Terra] é adorado pelas mesmas
características e atribuições de Aginju.
A palavra Iemanjá é forma de escrita em
alfabeto romano da palavra Iorubá Yemọja,
cuja etimologia é: Ye que é uma
compressão da palavra Yeye que
significa mamãe + mọ que é uma
compressão da palavra ọmọ que significa
filho, criança, + ja que é, por sua vez, uma compressão da palavra ẹja que significa peixe. Assim Yemọja
[Iemanjá] significa “ Mãe dos filhos peixes. A essa divindade foi dado reinar
sobre os cursos e corpos de água.
Conta a história que
Aginju cresceu rapidamente e passou a buscar uma mulher para desposar. Ele era
irmão de Iemanjá, que se tornou uma mulher da cor de ébano e de busto
avantajado pela presença de seios enormes, com os quais nutre o mundo. Naquela
época havia uma escassez de mulheres, e isso teria levado Aginju a desposar sua
propria irmã Iemanjá. Dessa união carnal nasceu um filho ao qual foi dado o
nome de Orungan.
Esse filho cresceu
rapidamente, e ao atingir a maturidade sexual buscou uma mulher para tomar como
esposa. Não encontrando alternativa, possuiu sua propria mãe, Iemanjá.
Esse ato
abominável se tornou uma fonte insustentável de inquietação para Iemanjá, assim
como também para Orungan. Iemanjá abandonou a sua posição de divindade e fugiu
para o desconhecido Orungan por sua vez, decidiu foi tomado por pensamentos
ruins e passou a buscar sua mãe para matá-la.
Depois de
algum tempo de busca pela sua mãe ele a encontra no deserto. Mas ela também o
avista e consegue escapar dele. Ele a persegue e no fim dessa perseguição, Iemanjá
cai, e seu estômago explode de onde saem dezesseis orixás, dentre eles Olosa, a
divindade dos lagos; Olokun, a divindade dos oceanos; Dada, a divindade da
vegetação; Oxum, que se transformaria no orixá a orixá Oxum); Aje Saluga, a divindade
da riqueza/ cauris; etc.
Referencia:
1.
DARAMOLA, O. JEJE, A. Awọn Àṣà ati Orìṣà Ilẹ Yoruba” [ Tradições e Orixás da Terra
Iorubá], ONIBON-OJE PRESS, Ibadan, Nigéria 1ª Edição; 1967.
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