O segmento Afro-ocidental da diáspora africana na
Bahia tem na prática litúrgica cotidiana uma série de procedimentos os quais
não apresentam diferenças evidentes de forma a caracterizar um Culto aos Voduns
do Daomé distinto de um Culto aos Orixás.
Essa amalgama de cultos e manifestações
litúrgicas associadas à divindades afro ocidentais, se apresenta e muitas vezes
é referida como liturgia Nagô-Vodun. Nessa prática litúrgica alguns Orixás são
cultuados como Voduns. Mas, e os Voduns do Daomé?
Um dos pontos mais relevantes em torno dessas
liturgias é a ênfase dada a uma pretensa dicotomia entre as práticas litúrgicas, de um lado Savalu e do outro Iorubá-Nagô, quer dizer: No Savalu parece existir uma crença entre os
sacerdotes da área da Bahia, de que a prática litúrgica Savalu é uma herança
exclusivamente Vodun, ou seja, que a liturgia ali praticada é uma herança
direta da religião dos Voduns do Daomé. Ou ainda, que a liturgia Savalu não tem
qualquer relação com a religião Orixá dos Iorubá. Tal distanciamento não parece
provável, devido a uma série de aspectos demográficos e históricos de Savalu
os quais depõem diretamente contra tal crença. Talvez uma breve análise da
conjuntura histórica e demográfica do Reino de Savalu ajude a colocar uma luz sobre
essa questão.
O Reino de Savalu está hoje reduzido ao
município de Savalou, localizado no sudoeste do território ocupado pela
República do Benin. Partilha as suas fronteiras com as comunas de Dassa-Zoumè e
Glazoué no Oriente; de Djidja ao Sul, de Bantè ao Norte e da República do Togo
ao Oeste por cerca de 65 km (limite norte-sul). Ele se estende quase 58 km de
oeste a leste e cobre uma área de 2.674 km²; 2,37% do território nacional
(CoForMO, 2017).
Com relação a prática litúrgica que se
convencionou denominar Jeje Savalu vamos ver dez pontos interessantes que podem ajudar a construção de uma visão mais clara da questão.
1.
Os Nagô são uma população da África Ocidental que
vive principalmente no Benin. Seu número foi estimado entre 50.000 e 60.000 na
década de 1980. A maioria vive em Kétou, Savé, Doumé, ao norte de Abomey e
Porto-Novo, a capital, onde estão mais perto dos Gouns (povo também descendente
dos Iorubá e que ainda falam essa língua). Eles geralmente têm um alto nível de
educação e ocupam um lugar significativo na esfera pública;
2.
A grande diáspora Nagô no Brasil, está
particularmente concentrada na Bahia, onde foi estudada exaustivamente pelos
etnólogos franceses Roger Bastide e Pierre Verger.
3.
Os reis de Savalu, desde a sua fundação são da
linhagem Gbaguidi [Gbagidi], que é um
termo Iorubá que significa literalmente " líder efetivo". Este nome
foi dado durante sua coroação ao primeiro rei em 1557 depois de domesticar um
búfalo, um animal que simboliza brutalidade selvagem. O reino de Savalou foi
fundado no início do século XVII pelo rei Soha Gbaguidi I, espalhou-se por um
território que corresponde aproximadamente à metade ocidental do Departamento
das Colinas [ Collines], centro da
atual República de Benin, incluindo a cidade de Savalou.Ou seja, o nome da
linhagem real é um nome Iorubá. O reino de Savalu foi fundando sobre um reinado Nagô.
4.
Nos portões da cidade, pode-se ver uma grande
estátua feita em terracota no centro de um parque que representa esse rei. Esta
linha foi aliada dos Reis de Abomey. Esta dinastia ainda reina no em Savalu: o
atual rei é Gbaguidi Gandjègni Awoyo XIV.
5.
A população de Savalou é composta
principalmente dos grupos étnicos Mahi e Ifé (que é uma etnia Iorubá);
6.
Os grupos étnicos Fòn, Aja, Peulh e Batammariba
são também representados
7.
Os dois principais grupos étnicos no município são
o grupo Adja-Tado e o grupo Iorubá.
8.
O grupo Adja-Tado é composto pelas etnias Fòn e
Mahi, que é uma etinia Guarda-chuva, ou seja, não existe uma etnia Mahi original. É uma mistura de pequenas retinias.
9.
O Mahi é um dialeto relacionado
linguisticamente ao Fòn, que é a língua falada principalmente no Sul e no
centro do Benim.
10.
Os Mahi de Savalou constituem uma minoria
estabelecida entre os Nagô que povoam a maior parte do centro do Benin.
A influência dos Nagô pode ser avaliada se for
observado, por exemplo, que o presidente da República do Benim eleito em 2006,
Yayi Boni, é de origem nago por parte de pai.
Referencia:
2. Le communes de le espace CoForMo; http://coformo.com/index.php/savalou (acessado em: 11/02/18) ;
4.
Imagem http://cotonouexpress.com/media/show/celebrations-culturelles-a-la-fete-de-ligname-a-savalou
(acessado em: 13/02/18)
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