Wednesday, February 21, 2018

Àṣẹ, Kábiyèsí...Káwó Kábíẹ̀sílẹ


A textualização da História de Xangô começa, em geral , assim:

Ni ákókò kan gẹgẹbi itan ti sọ Ṣàngó jẹ Ọba l´ode Ọ̀yọ-ilé ti njẹ “Ẹyeọ́ tabi Kátúngá ni ákókò naa.
Ṣàngó jẹ ikẹta Alááfin ti Ọ̀yọ. Ọmọkunrin ikeji ti Ọ̀rányàn bi Ṣàngó n̄ṣé. Ó tun jẹ òrìṣà kan ti iran rẹ̀ kun fun ibẹ̀ru. Ìrìsí òrìṣà yi tilẹ ba´ni l´ẹru pèlú. Ìṣe ati isọ̀rọ̀ rẹ̀ paapaa kun fun ibẹ̀ru nigba ti o wa laaye nitori pé eniyan l´agbọ pé Ṣàngó jẹ ki o to di òrìṣà ààrá.
Tradução
Como a história registar, houve uma época na qual Xangô reinou sobre Oyó que se chamava Eyeó ou Katunga, naquela época. Xangô foi o terceiro Imperador (Alaafin) de Oyó. Era o segundo filho de Oranian Ele também é uma divindade (Orixá) que impôs temor ao povo do seu tempo (de sua geração). Sua postura era mesmo impressionante. Enquanto vivo, suas ações e falas se impunham pelo temor e respeito que despertavam nas pessoas porque se acreditava que Ele se tornaria o Deus do trovão.
 
Essa característica veio a somar para a reputação de Deus vingativo associada a Xangô. Um cântico entoado em algumas Casas emblemáticas do Culto ao Deus do Trovão, diz isso. O cântico diz assim (no ritmo Ilù).
 
Ó níká wọn ńbọ l´ọ̀na àìkàsí rẹ̀
Ó níká wọn ààbò l´ọ̀na ki wọn gbà ẹ̀yin jẹ
Ẹran´gùtàn, Ọba kò wọn so, wọn ó pàdé l´ọ̀na
Wọn nìkàsí rẹ̀, wọn ńbọ si àrá ẹ̀yin a róòde ó
Bàrà wọn nìkàsí o ní jẹ́ kòso, àrá ẹ̀yin a róòde...
 
                                                                                           (OLIVEIRA, A. B.; o Altair T´Ogun)
Tradução
 
Ele contou os que caíram no caminho, por desrespeitarem-no,
Ele contou os que ele abençou no caminho, que lhe deram carne de carneiro para comer, Ele os governa, e eles o encontram
No caminho e rendem-lhe seus respeitos
Eles cultuam seus raios, quando este os circunda no bara (mausoleu real).
Eles vão apresentar seus respeitos àquele que foi coroado. Vosso raio ao redor, no mausoleu real.
Eles vão apresentar seus respeitos, àquele que foi coroado.
Definitivamente, a humildade e a predisposição constante para o aprendizado são itens fundamentais para o pleno exercício do sacerdócio, ou mesmo para a saudável interação com a ancestralidade Iorubá-Nagô.
Em julho de 2014, a cidade de Salvador recebeu a visita do Rei HRH (His Royal Highness, ou seja, Sua Majestade Real) o Oba Lamidi Adeyemi III Aláàfin [Imperador, Monarca] de Oyó , o Grande Imério onde Xangô reinou, e eu tive a imensa honra de participar do evento e interagir com nossos irmãos e irmãs Iorubá que formavam a sua comitiva.
Durante o discurso do Monarca, nós ali presentes eramos orientados por um assessor real da sua comitiva para aclamá-lo dizendo, a cada momento propicio, a todo peito, a palavra:  
“Kábiyèsí!”
Ora, mas em verdade os presentes, na sua grande maioria, povo de axé, insistia em gritar:
“Kábíẹ̀sílẹ!”
O assessor real então insistia para que a gente gritasse:
Kábiyèsí!,
Mas povo de axé, insistia:
Kábíẹ̀sílẹ!
E então é Kábiyèsí ou Kábíẹ̀sílẹ?
As duas expressões estão corretas.
A vida do Iorubá enquanto jornada ao longo da superfície do planeta Terra deve ser guiada pelo manuscrito sagrado (composto por livros orais denominados Odú) chamado Ifá. Essa jornada está repleta de obstáculos (Ajogun) que são as forças contrárias a afirmação do homem sobre o comando da sua jornada individual e coletiva. Voluntariamente ou involuntariamente, a humanidade acabará por ter que enfrentar essas forças, dentre as quais está Ikú [Morte]. Os pés são a ligação direta do corpo com a terra, a grande bacia na qual o cainho a ser seguido está traçado. Os pés não detém poder de decisão sobre o caminho. Esse poder é atributo de Ori, o ser inteligente que mora na cabeça física do indivíduo e conhece o seu destino antes durante de depois. É Ori que vê, que sabe que existe um outro Ori conhecedor do caminho traçado pelo contrato ancestral para dar ao indivíduo membro da sociedade Iorubá a guia fórmula para a sua caminhada. Esse Orí Principal mora na cabeça daquele nascido para ser coroado: O Rei. Portanto, para aspirar ao sucesso, os pés devem estar em harmonia com a cabeça comandante e esta cabeça deve estar alinhada e sintonizada com a matriz sagrada: Ifá
Daí o pináculo da sociedade, o chefe sacerdotal do processo litúrgico. Por essa função exige que o rei deva ser necessariamente um rei sacerdotal. Em Ifé é o Ooni, e em Oyó é o Aláàfin (que significa “Dono do Palácio, que é o Templo Absoluto).Por isso é que se saúda o Rei dizendo:

“Kábiyèsí o, ọba aláṣẹ, ikeji òrìṣà, ki adé pẹ lórí, ki bàtà pẹ lẹsẹ, ki ìrùkẹrẹ pẹ lọwọ,
Ki ẹṣin ọba jẹ ko pẹ o, Kábiyèsí o".
 
Tradução
Salve, Ó Majestade, Rei poderoso (dono do axé), segunda pessoa dos deuses, salve a Coroa que que orna Vossa nobre cabeça, salve o Calçado sob os Vossos pés. Salve o Irukere que porta na sua mão. Que o seu cavalo coma a grama (tenha força para carrega-lo)/que voce tenha longa. Salve, Ó Majestade.
 
Ou seja, o assessor real nos pedia para suadar o rei somente como Monarca e não como Sacerdote Mor. Por que....???
Na próxima semana tem mais sobre Xangô, que Ele assim nos conceda.

Referencias:
1.      Aṣe ati Òrìṣà Ilẹ Yoruba; pg. 285
3.
 
 

 

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