Wednesday, December 6, 2017

Amoreira o atin de Kútútɔ




A Amoreira é uma árvore cujo fruto, a amora, é apreciado no mundo todo. Seu porte é médio, alcançando de 4 a 12 metros de altura. As folhas são simples, ovaladas de bordas dentadas e recobertas por uma pilosidade que as torna ásperas ao toque. As flores aparecem no final do inverno e se aglomeram formando espigas. Para a ciência ocidental essa espécie botânica é classificada como árvore frutífera e medicinal.

A Amoreira é uma árvore sagrada para as religiões de matriz africana. Pertencendo a Oyá e ao Ile Ibó Iku [Ilé Ibọ Iku], a sua sombra é uma sede para a reunião de Espíritos e desencarnados, e por isso desaconselhável a sua utilização como refúgio do sol, por um longo tempo. No Savalu, esses espíritos são referidos pelo termo Kutitó, que é uma corruptela do termo Kútútɔ́ que na língua fòn significa, literalmente, “morto que continua em pé (no alto) ”.

É do galho da Amoreira que se fabrica o Ixán, uma varinha ritual usada pelos sacerdotes para controlar os Eguns quando visitam o Aye. O processo de fabricação desse bastão ritualístico é de conhecimento exclusivo dos Babalossaim [Babalossanyn] ou pelos Sacerdotes do Culto aos Egúngún.

Referencias


(Acessado em 06/12/17);

Thursday, August 10, 2017

Ìpínlẹ̀ Èkó ṣe Àjọyọ̀ Ìdásílẹ̀ Àádọ́ta Ọdún



Traduzindo o título para o Português, se lê: “A criação de Lagos festeja seus cinquenta anos” a Iorubá, use-a, caso contrário, você irá perde-la”.

Os Iorubá se constituem em um dos maiores grupos étncos da África com origens ao sul do deserto do Saara. Eles não são, de fato, um único grupo, mas sim uma coleção de pessoas diversas ligadas por uma linguagem, história e cultura comuns. Dentro da Nigéria, os Iorubá dominam a parte ocidental do país. A mitologia Iorubá sustenta que todo o povo Ioruba descende de um herói chamado Odua ou Oduduwa. Hoje, há mais de cinquenta indivíduos que reivindicam a realeza como descendentes de Odua. Durante os quatro séculos do tráfico de escravos, o território Iorubá foi parte da região que ficou conhecida como a Costa dos Escravos. Um número incalculável de Iorubá foi levado para as Américas. Seus descendentes preservaram as tradições Iorubá. Em várias partes do Caribe e América do Sul, a religião iorubá foi combinada com o cristianismo.

            Em 1893, os reinos Ioruba na Nigéria tornaram-se parte do “Protetorado da Grã-Bretanha”. Até 1960, a Nigéria era uma colônia britânica e os Iorubá eram súditos da coroa britânica. Em 1 de outubro de 1960, a Nigéria se tornou uma nação independente e estruturada como uma federação de estados.
A língua Iorubá pertence à família dos idiomas Congo-Kordofaniano. São muitos os dialetos que compõem a forma de comunicação denominada língua Iorubá. Entretanto o que os caracteriza como língua Iorubá é o traço comum de mútuo entendimento entre os falantes.
O Iorubá é uma língua tonal. A mesma combinação de vogais e consoantes tem diferentes significados, dependendo do tom das vogais (seja pronunciado com voz alta ou baixa voz). Por exemplo, a mesma palavra, “aro”, pode significar címbalos, tintura índigo, lamentação e celeiro, dependendo da entonação. Pele o é "Olá"; "Bawo ni"? É "como você está?". E "Dada ni" está "tudo bem, obrigado".
O Iorubá falado nos dias atuais é uma forma de comunicação dinâmica e efetiva, sendo listada entre as línguas em uso na África dos nossos dias.
Por exemplo, um texto publicado sobre o aniversário de fundação de Lagos como primeira capital da Nigéria, ao ser consolidada como República Federativa, está escrito assim:
 
“ Ìjọba-àpapọ̀ sọ Èkó di ìpínlẹ̀ ni àádọ́ta ọdún sẹhin.  Èkó jẹ́ olú ilú fún gbogbo orilẹ̀ èdè Nigeria tẹ́lẹ̀ ki wọn tó gbe lọ si Abuja.  Ìpínlẹ̀ Èkó jẹ ikan ninú ipinle mẹ́fà Yorùbá.

Yorùbá ni “Èkó gba olè, ó gba ọlẹ”, ọ̀rọ̀ yi jẹ wi pé kò si irú ẹni ti ko si ni ìpínlẹ̀ Èkó nitori Èkó gba olówó, ó si gba aláini àti wi pé iṣẹ́ pọ̀ ni Èkó ju gbogbo ìpínlẹ̀ yoku lo.  Kò si ẹ̀yà tàbi ẹ̀sìn Nigeria ti kò si ni Èkó.  Nitori èyi èrò pọ̀ jù ilẹ̀ lọ nitori omi ló yi Èkó ká.”

Tradução

O governo federal da Nigéria criou o estado de Lagos há cinquenta anos. Lagos era a antiga capital da Nigéria antes de a capital ter sido transferida para Abuja. Lagos é um dos seis Estados Iorubá.
De acordo com um dito popular Iorubá, “Lagos acomoda os ladrões e os preguiçosos”, o que quer dizer que o rico e o pobre, qualquer pessoa pode viver em Lagos, pois não há grupo étnico que não esteja representado naquele Estado e também por que há mais oportunidades de trabalho em Lagos do que outros Estados do país.

Refrencias:




 

Wednesday, August 2, 2017

O Culto a Xangô se confunde com o Culto aos Ji-Vodun: É Nagô-Vodun, ou Vodun-nagô?




 

Em uma cerimonia pública de candomblé, os povos de várias casas  e várias vertentes se reúnem para festejar Xangô, se a casa na qual se realiza o festejo, é de orientação Quêto-Nagô. Se a casa em questão é de orientação Jeje, por exemplo, o povo pode se reunir para festejar Sobô.
Caso tomemos como base a essência litúrgica original assumida nominalmente por cada uma das nações citadas, não encontraremos, ao observar as festividades, as diferenças fundamentais que caracterizariam uma ou outra liturgia e a diferenciação entre as casas seja  tradição Quêto-Nagô ou Jeje, é uma prática litúrgica idêntica. Não se percebe diferença e, daí, se evidencia mais uma prova contundente e incontornável do amalgama das duas tradições em um só contexto Jeje- Nagô aqui na nossa Bahia.

Entretanto, há uma diferença fundamental que passa despercebida e eu gostaria de realçar.
No Quêto-Nagô, com base profunda e indiscutível na sua excelente Liturgia a comunidade em cântico e oração, pede distância do fogo de Xangô, e isso fica muito claro em dos mais destacados cânticos de louvor, entoado nas cerimonias públicas. Vejamos o que diz o cântico:


   Má iná iná

   Iná iná.

                                  ba Kòso

                                  Má iná iná

                                

Traução

Não nos mande fogo,

Oh, Rei de Kosô

 

 No Jeje, ao contrário, os devotos convidam o fogo para dentro do Templo.
Um dos mais expressivos exemplos dessa diferença é a Festa da Fogueira, ou como dizemos em língua fòn [fɔngbè] Zogodé que significa “o Fogo Pleno Desce a Terra”.
Para os Jeje, o fogo é um dos elementos da dinâmica da multiplicação da vida segundo a cosmogonia jeje, na sua plenitude e na sua promessa de continuidade da vida,
o cântico que recebe a entrada triunfal do Vodun, anuncia, na Voz do Solista [Kútó] achegada desse fogo, trazido pelo Vodun vivo. 

Zogodê ê Zogodê
Ê Zogodê Ê Zogodê
         Aklunó Zô náá sin bê wê
         Aklunó Zô náá sin bê wê
Naturalmente, que esse texto musical repetido por todos os presentes é a forma confortável para nós falantes do Português. O mesmo texto escrito na língua original, ou seja, o texto fòn, seria o seguinte:



Zogɔ̆ d’ɛ́ , É Zogɔ̆ d’ɛ́ 

 É Zogɔ̆ d’ɛ́, É Zogɔ̆ d’ɛ́
      Aklúnɔ̀  Zo náá sìn gbè wĕ
    Aklúnɔ̀  Zo náá sìn gbè wĕ

 

Os versos desse cântico dizem:


Zogodê = O Fogo Pleno Desce a Terra
Ele desce a Terra, Ele desce a Terra
O Senhor (do) Fogo vem líquido e visível.
O Senhor (do) Fogo vem líquido e visível

 Analisando a etimologia das palavras que compõem o cântico, vemos que: Zogɔ̆ d’ɛ́ envole as palavras Zo = Fogo + Gɔ̆= pleno, cheio + D’ɛ́ = desce à terra, vem em terra firme. Aklúnɔ̀ = Senhor, Mestre, Dono. Daí, Aklúnɔ̀ Zo = Deus Fogo, Fogo Divino, Deus do Fogo; Náá = (partícula que indica uma direção, indica o futuro) + á = Diretamente, certamente.Sìn = Liquido, água, que flui, que escorre
Gbè Wĕ (Gbè Wè Wĕ) = Ser branco, ser claro, ser (se tornar) visivel.
Essas são algumas das diferenças que passam despercebidas devido a ausencia de uma escolaridade litúrgica. Vamos estudar para promover a prática desses resgates.

 


 
 
 



 
 

Monday, July 3, 2017

Zăn Gbεtɔ : A Realidade de uma “ficção” ocidental


Tradicionalmente, os Zangbetos eram os policiais de Benin e eram os principais guardiões da lei no país antes do estabelecimento oficial da lei. Dizem que eles formam uma sociedade secreta e que, quando em um transe, tem habilidades mágicas. Em transe, os Zangbeto evocam um poder que habitava a Terra muito antes da aparência do homem e forneceu uma fonte de sabedoria e continuidade para o povo de Benin.
Durante a cerimônia, eles se transformam, girando cada vez mais rápido e correndo em torno  da praça da vila enquanto são impedidos por seus "manipuladores". Eles correm batendo em aldeões e visitantes. Eventualmente, eles parecem paralisados. Os "manipuladores", então, batem os lados do palheiro com as mãos antes de levantá-lo do chão. Isso é para mostrar que nenhuma pessoa está embaixo da fantasia de palheiro. Ao invés de uma pessoa, algo mais é revelado: um crocodilo jovem (muito vivo e rápido), uma estatueta com braços em movimento, um crânio de animal comendo banana ou uma bebida alcoólica. O Zangbeto usou seus poderes mágicos para se transformar!
O viajante Ryan Thomas relata assim a sua experiencia com a visão dos Zangbeto: “De volta a praça da aldeia de Hlande, ainda estou perplexo com os Zangbetos e seus truques de mágica. Certamente, deve haver uma pessoa dentro daquele cone, girando o seu palheiro ao seu redor com uma velocidade cada vez maior. Se eu pudesse apenas vislumbrar a parte de baixo de um desses cones... Assim que terminei esse pensamento, um desses palheiros estava "estacionado" bem na minha frente. Para minha surpresa, quatro homens adultos se aproximaram do Zangbeto e derrubaram o cone na bem na minha frente: o cone estava completamente vazio! Eh!!!, eu pensei surpreso: Será que eu perdi alguma coisa? Talvez tenha havido um lapso de tempo no qual eu  entrei em uma realidade alterada (alternativa). Como isso aconteceu? Não tenho ideia senão uma coisa que eu sei com certeza - isso vai me causar algumas noites sem dormir.