Wednesday, August 2, 2017

O Culto a Xangô se confunde com o Culto aos Ji-Vodun: É Nagô-Vodun, ou Vodun-nagô?




 

Em uma cerimonia pública de candomblé, os povos de várias casas  e várias vertentes se reúnem para festejar Xangô, se a casa na qual se realiza o festejo, é de orientação Quêto-Nagô. Se a casa em questão é de orientação Jeje, por exemplo, o povo pode se reunir para festejar Sobô.
Caso tomemos como base a essência litúrgica original assumida nominalmente por cada uma das nações citadas, não encontraremos, ao observar as festividades, as diferenças fundamentais que caracterizariam uma ou outra liturgia e a diferenciação entre as casas seja  tradição Quêto-Nagô ou Jeje, é uma prática litúrgica idêntica. Não se percebe diferença e, daí, se evidencia mais uma prova contundente e incontornável do amalgama das duas tradições em um só contexto Jeje- Nagô aqui na nossa Bahia.

Entretanto, há uma diferença fundamental que passa despercebida e eu gostaria de realçar.
No Quêto-Nagô, com base profunda e indiscutível na sua excelente Liturgia a comunidade em cântico e oração, pede distância do fogo de Xangô, e isso fica muito claro em dos mais destacados cânticos de louvor, entoado nas cerimonias públicas. Vejamos o que diz o cântico:


   Má iná iná

   Iná iná.

                                  ba Kòso

                                  Má iná iná

                                

Traução

Não nos mande fogo,

Oh, Rei de Kosô

 

 No Jeje, ao contrário, os devotos convidam o fogo para dentro do Templo.
Um dos mais expressivos exemplos dessa diferença é a Festa da Fogueira, ou como dizemos em língua fòn [fɔngbè] Zogodé que significa “o Fogo Pleno Desce a Terra”.
Para os Jeje, o fogo é um dos elementos da dinâmica da multiplicação da vida segundo a cosmogonia jeje, na sua plenitude e na sua promessa de continuidade da vida,
o cântico que recebe a entrada triunfal do Vodun, anuncia, na Voz do Solista [Kútó] achegada desse fogo, trazido pelo Vodun vivo. 

Zogodê ê Zogodê
Ê Zogodê Ê Zogodê
         Aklunó Zô náá sin bê wê
         Aklunó Zô náá sin bê wê
Naturalmente, que esse texto musical repetido por todos os presentes é a forma confortável para nós falantes do Português. O mesmo texto escrito na língua original, ou seja, o texto fòn, seria o seguinte:



Zogɔ̆ d’ɛ́ , É Zogɔ̆ d’ɛ́ 

 É Zogɔ̆ d’ɛ́, É Zogɔ̆ d’ɛ́
      Aklúnɔ̀  Zo náá sìn gbè wĕ
    Aklúnɔ̀  Zo náá sìn gbè wĕ

 

Os versos desse cântico dizem:


Zogodê = O Fogo Pleno Desce a Terra
Ele desce a Terra, Ele desce a Terra
O Senhor (do) Fogo vem líquido e visível.
O Senhor (do) Fogo vem líquido e visível

 Analisando a etimologia das palavras que compõem o cântico, vemos que: Zogɔ̆ d’ɛ́ envole as palavras Zo = Fogo + Gɔ̆= pleno, cheio + D’ɛ́ = desce à terra, vem em terra firme. Aklúnɔ̀ = Senhor, Mestre, Dono. Daí, Aklúnɔ̀ Zo = Deus Fogo, Fogo Divino, Deus do Fogo; Náá = (partícula que indica uma direção, indica o futuro) + á = Diretamente, certamente.Sìn = Liquido, água, que flui, que escorre
Gbè Wĕ (Gbè Wè Wĕ) = Ser branco, ser claro, ser (se tornar) visivel.
Essas são algumas das diferenças que passam despercebidas devido a ausencia de uma escolaridade litúrgica. Vamos estudar para promover a prática desses resgates.

 


 
 
 



 
 

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