Yẹ̀ ti Ilẹ̀ ri ọ!!!
No universo afrodiaspórico que nos envolve nessa terra da Bahia, um pedaço de autentica África encrustado na terra do pau Brasil, cedido aos nossos antepassados que primeiro aqui vieram, pelos verdadeiros primeiros habitantes que aqui viviam e dominavam segredos fundamentais da flora e da fauna locais, definitivamente, respiramos uma atmosfera marcada pelo amalgama cultural jeje-ewe-fon-iorubá-nago com um pano de fundo ameríndio.
No universo afrodiaspórico que nos envolve nessa terra da Bahia, um pedaço de autentica África encrustado na terra do pau Brasil, cedido aos nossos antepassados que primeiro aqui vieram, pelos verdadeiros primeiros habitantes que aqui viviam e dominavam segredos fundamentais da flora e da fauna locais, definitivamente, respiramos uma atmosfera marcada pelo amalgama cultural jeje-ewe-fon-iorubá-nago com um pano de fundo ameríndio.
Nesse contexto a morte não poderia se fazer
ausente.
Os Mortos do
sexo feminino recebem o nome de Iyámi
Agbá (minha mãe anciã), porém, não são cultuadas individualmente. Sua
energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyàmi Oxorongã
chamada também de Iyá Nlá, a grande mãe.
E eis que as cerimonias fúnebres e de luto
dentro do Candomblé Quêto-Iorubá-Nagô são denominadas “axexê”. Existem alguns itán (historias, mitos) sobre as
origens dessas cerimonias associando a sua concepção, principalmente, ao Orixá
Oya-Iansã.
O
Axexê é uma cerimônia realizada após o enterro de
uma pessoa iniciada no candomblé.
No Culto a Ancestralidade Jeje-Nagô a morte é
concebida como sendo a “última obrigação” do iniciado.
Nessa “obrigação” é procedida
a “dessacralização” do corpo físico no sentido de liberar o corpo do compromisso
de serviço a Orixá. É o inverso da feitura de santo.
Curiosamente, entretanto, na língua Iorubá corrente
dos dias de hoje na Iorubalandia africana da Nigéria, palavra aṣẹ́ṣẹ̀ [axexê] significa “aquele cuja a perna está quebrada”. Ou seja, a palavra
na sua função original hoje no outro lado do Atlântico, não traduz o
significado de “cerimonias fúnebres”. Mas, do ponto de vista ànàgó [nagô] dos nossos antepassados
mais próximos e que viveram a epopeia escravista marcada por fugas, revoltas,
escaramuças e quilombos, pode sim existir uma relação de parentesco extremamente
próxima entre uma “perna quebrada” e “a morte” com resultado. Afinal não havia
nem de longe o acesso ao tratamento regular de saúde nos tempos acima
referidos, e assim uma perna quebrada poderia resultar em morte para quem
precisava viver fugindo.
Olhando as cerimonias fúnebres a partir da
plataforma Jeje-Nagô-Ewe-Fon, duas palavras aparecem como mais usadas para referência.
São os termos:
1. Sirrum, que encontra respaldo
no termo “Sìhŭn” que na língua Fon significa
literalmente “Sob a dependência do Grande Espirito” (onde “Hŭn” é a palavra para “Grande Espirito”, “Divindade”, sangue,
osso, etc.)
2. Zerim ou Zerrin, que, por sua vez, encontra respaldo na palavra Fon “Zὲnlí ” cujo significado é “tambor
fúnebre”.
Talvez daí e do sincretismo Jeje-Nagô o Axexê é
também conhecido pelos nomes de Zerrin
e Sirrum
que são também os nomes de dois dos instrumentos percutidos no acompanhamento
dos cânticos de Axexê: o Sirrum é uma metade
de cabaça emborcada em um alguidá e o Zerim é um pote que é percutido
com um abano de palha.
Quando uma pessoa do axé se
vai desse mundo, dentre os mais velhos do povo de santo era comum se ouvir a
expressão “Yẹ̀
ti Ilẹ̀ ri ọ” que significa
algo como: “Inversão na (plataforma
da) visão que ele/ela tem da terra”. cujo significado para as pessoas de
santo é profundo. É a admissão de que para o corpo físico ocorre uma mudança irreversível
no que diz respeito a sua presença na terra e que para os que ficam restará preparar
tudo para usufruir do olhar daquele que estará, agora como ancestral, olhando o
mundo de um ângulo único.
Referencias:
1. Axexê;
https://pt.wikipedia.org/wiki/Axex%C3%AA
(acessado em 31/12/18);
2. BRITO,
A.S. de; EXU: Exu Elebara é Vodun Léba; 1ª Edição; Casa das Artes; 2018;
Salvador, BA;
3. Culto
aos Eguns;
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