É
sempre oportuno mostrar a força das tradições iorubá-nagô invisibilizada por
conta de uma imposição capitalista e mercadológica que tem o seu começo
atrelado ao processo “civilizatório” europeu o qual, por sua vez, toma como
plataforma teórica a “inferioridade africana”. Talvez essa qualificação de “inferioridade”
tenha como real objetivo escamotear o papel fundamental desempenhado por homens
e mulheres nascidos naquele continente. É por conta disso que, na Bahia a história dos africanos alforriados "retornados" assim como aqueles outros que enriqueceram e se tornaram grandes nomes no corredor Brasil-África, na condição de viajantes internacionais e comerciantes entre a Bahia e a África, não constam da "história oficial" do Brasil. Ou como, em mais um exemplo,
Hollywood “tirou” o Egito da África e criaram um isolamento a priori que nunca existiu entre a
civilização helênica e suas fontes africanas.
No livro “A Religião do
Atlântico negro”, que eu traduzi do original “Black Atlantic Religion” do autor e antropólogo James Lorand Matory
e que devo lançar no ano vindouro, traz na página 47 uma observação bastante
pertinente com relação ao que observo acima, O texto que lá está é o seguinte:
“
... O orgulho que os viajantes afro-baianos e seus
filhos tinham da África que eles conheciam pode ser sintetizado em um
comentário recolhido por Pierson: “Essa gente daqui da Bahia pensa que os
africanos são uns bárbaros e ignorantes. Não acreditam que escrevemos a nossa
língua e que, nela, livros são impressos....
Não sabem que em Lagos existem boas escolas, melhores do que as que
existem aqui na Bahia. Veja isso! – e mostra a foto de uma escola em Lagos –
existe algo aqui na Bahia tão magnífico quanto isso? (PIERSON, 1942, p. 272) ...”
E com esse preambulo, trago um artigo mostrando
mais uma vez o poder da língua e da cultura originais iorubá-nagô.
Nele o autor
alerta contra o consumismo irresponsável fomentado pelo capitalismo ocidental,
lembrando um provérbio ioruba que diz: “Ṣe
bi o ti mọ ki i tẹ́” que significa “aquele que age com moderação, não
conhecerá a ruina". Dividi o texto do artigo em parágrafos os quais traduzo para
o Português passo a passo, .
Ọdún
Kérésì jẹ́ ọdún Onigbàgbọ́ lati ṣe iránti ọjọ́ ibi
Jésù Olùgbàlà. Ọjọ́ kẹjọ lẹhin ọdún Kérésìmesì ni ọdún
tuntun. Fún ayẹyẹ ọdún, kò si iyàtọ̀ laarin Ìgbàgbọ́ àti
Mùsùlùmi ni ilẹ̀ Yorùbá nitori Yorùbá gbà wi pé “Ẹni ọdún bá láyé,
ó yẹ kó dúpẹ́”. Ọpẹ́ ló yẹ ki èniyàn dá ju igbèsè ji jẹ lati ṣe
àṣe hàn ni àsikò ọdún.
Tradução
O Natal é a comemoração
que lembra o nascimento de Jesus (Salvador). Uma semana depois do Natal é o dia
do ano novo. Não existe diferença
entre as comemorações de ano novo dos católicos e dos muçulmanos nas terras
iorubás, por que os iorubás reconhecem que as pessoas comemoram estar vivas e
por isso agradecem”.
Tradução
Por
vários anos antes, os fazendeiros/agricultores voltavam para casa trazendo os
frutos das suas colheitas, principalmente o inhame. Os comerciantes se
preparavam para muitas boas vendas por que nessa época os pais e mães compravam
roupas de festas para os seus filhos usarem. E também compravam uma boa
quantidade de gêneros alimentícios para as festas. Os jovens também se enchiam
de alegria por que iam de casa em casa tendo uma plenitude de arroz e de
galinhas, sacrificadas especialmente para essa época. Os mais velhos também
compravam roupas caras para usarem nas Festas de fim de ano/agradecimento. Porém, desde que teve início
o ciclo de exploração do petróleo, os preços das coisas se tornaram
exorbitantes, com são hoje.
Àsikò
ti olè npọ̀ si niyi pàtàki ni ilú Èkó, nitori ọ̀pọ̀lọpọ̀ fẹ na owó ti wọn
kò ni lati ṣe ọdún. Ìpolówó ọjà pọ̀ ni àsikò yi ni Òkè-Òkun,
nitori eyi, ọ̀pọ̀ nlo ike-igbèsè tàbi ki wọn ya owó-èlè lati ra ọjà ti wọn
kò ni owó rẹ. Lẹhin ọdún, wọn a fi ọdún tuntun bẹ̀rẹ̀ si san igbèsè,
nitori eyi Ìyá àti Bàbá a ma a ti ibi iṣẹ́ kan lọ si ekeji lai ni ìsimi
tàbi ri àyè àti bójú tó àwọn ọmọ.
Tradução
É uma época na
qual o número de roubos aumenta, particularmente em Lagos por que muitos
ladrões querem o dinheiro que não tem para fazer a festa. No exterior, os
anúncios comerciais se intensificam, por isso muitos usam cartões de crédito ou
tomam dinheiro emprestado a juros altos para comprar roupas que eles não têm
condições de comprar. Depois das festas,
eles começam o ano novo tendo dividas para pagar e assim precisam se desdobrar
trabalhando em dois lugares, sem ter tempo par descanso ou mesmo para cuidar de
seus filhos.
Ọ̀rọ̀
Yorùbá sọ wi pé “Ṣe bi o ti mọ ki i tẹ́ ”, nitori eyi gbogbo ọmọ Yorùbá ni
ilé, ni oko, ẹ ṣe bi ẹ ti mọ, ẹ ma tori odun na ọwọ́ si nkan ti ọwọ́ yin kò
tó, ki ẹ ma ba a tẹ́. Ọ̀pọ̀lọpọ̀ Onigbàgbọ́ ayé òde oni ki i fẹ
fi èdè Yorùbá kọrin ṣùgbọ́n ẹ gbọ́ bi ọmọ Òyinbó ti kọ orin àwọn
“Obinrin Rere”
Tradução
Um
provérbio iorubá diz: “ aquele que usa a moderação, não conhecerá a ruina”, por
isso os iorubá em casa, no estrangeiro, devem usar a moderação, devem passar o
ano segundo a possibilidade do alcance dos seus próprios recursos (respeitando
o alcance do seu braço). Hoje em dia, muitos cristãos não cantam usando a
língua iorubá, mas veja abaixo como uma jovem branca canta com alegria a música
“Good Women Choir's”.
Referencias:
http://www.theyorubablog.com/%E1%B9%A3e-bi-o-ti-mo-ki-i-te-odun-wole-de-one-who-acts-moderately-will-not-be-disgraced-the-festive-period-is-here/
(acessado em 15/12/18);
2. Imagem/
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(acessado em 15/12/18)
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