Friday, November 2, 2018

E jí múdá’ saare wá, o Restaurador de almas chega cansado



 Hoje é dia 2 de novembro de 2018 e comemoramos o feriado de Finados, ou seja: todo o pais comemora nesse dia a “memória dos mortos”.
Mas para o povo do Candomblé a “memória dos mortos” é objeto de adoração diuturna e constante, visto que, a nossa concepção de Vida no universo físico não se reduz a uma manifestação carnal e temporária da divindade mediante um pacto animal.  
À divindade que é a essência motor desse "pacto" em cada uma das pessoas, se dá o nome de ìrúnlẹ̀.
Contudo, o autor Altair B. de Oliveira no livro “Cantando para os Orixás”, na página 133, no cântico 26 para o Orixá Oxum (4ª edição,2007) ele usa a palavra “ìrúnnmọlẹ̀”, que na tradução para o Português ( a qual ele anexa ao cântico) ele escreve a palavra “Irunmalé”, sem maiores esclarecimentos com relação ao seu significado.
Leituras diversificadas e uma relativa familiarização com o Culto a Ancestralidade me leva a reconhecer no motor do animal humano (seja “ìrúnlẹ̀”, seja “ìrúnnmọlẹ̀”, ou mesmo “Irunmalé”), uma presença etérea que desconhece o tempo como parâmetro diferenciador entre o que é eterno e o que é terreno.
Então, do ponto de vista do Candomblé Iorubá-quêto-jeje-nagô, a Vida Eterna começa muito antes do nascimento e consequente peregrinação animal do homem sobre a superfície desse Planeta. Melhor dizendo: a sua “Vida Eterna” não vai “começar” depois que você morrer visto ser essa "Vida", um Estágio Universal Onipresente por Todo o Sempre.
É a essa visão de Vida humana no universo físico que os sacerdotes afro-doutrinadores que estabeleceram e consolidaram os Fundamentos das liturgias Iorubá-quêto-jeje-nagô, associam à Senioridade absoluta da Vida Eterna. Quer dizer, o caráter de “Eternidade” é a expressão, em uma palavra, da constante evolução das relações de parentesco e pertencimento entre os indivíduos humanos, e é uma das tarefas atribuídas pela Divindade Absoluta , em algumas interpretações, aos Orixás Funfun (Orixás do Branco). Na interpretação que me é mais familiar, essa evolução é modulada pelos Orixás e/ou Nagô-Voduns da terra: o Clã de Sapatá, que é encabeçado por Nanã ( a Mãe fornecedora da lama rica em aminoácidos de onde se forma o corpo humano para a Vida) e reune as familias de energias (Voduns) da terra (Ayi) e os Orixás: Obaluayê, visto aqui como o “Senhor das Passagens”, já que orienta o ìrúnlẹ̀ para uma nova experiência de Vida, e Omolú, o filho que patrocina e traz a restauração do binômio “corpo+alma”. 
Essa restauração é referida como “múdára”, ou seja “fazer com que seja bom” (fazer com que fique bom) é dai que surge o cântico de louvor a essa energia no qual o solista diz: “Ẹ jí múdá´,múdá’ ṣ´ó rere!”, que significa literalmente “Ele desperta a restauração (do corpo e da alma) ,e isso o torna gentil”. E o coro dos fiéis responde:

Ẹ jí múdá’, Ẹ jí múdá’,

Ẹ jí múdá’ ṣaarẹ wá

Tradução: Ele desperta a restauração (do corpo e da alma),

Ele desperta a restauração (do corpo e da alma), está cansado, chega (vem para casa).

 

Referencia:

1.    Imagem;


 

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