Sunday, November 11, 2018

Alé, o Orixá Terra



 
É certamente gratificante para todo o povo de santo ou melhor, para todos que se dedicam à causa Orixá, Vodun, Inquice e Encantados perceber que, contrariando um curso de intolerância, as nossas religiões seguem em franco processo de resgate das suas liturgias mais caras, transcendendo o muro de isolamento pela “demonização” unilateral e ignorante que lhes foi imposto pela sociedade escravista ocidental quando lhe atribuíram, em consonância com uma agenda que lhes reserva um papel secundário ou folclórico.
Não, definitivamente não.
A “Bahia dos Orixás” que foi transformada pela mídia ávida em um produto hibrido e reduzido a um conjunto de mimetizações tão repetidas ao ponto de serem “vendidas” como verdadeiras, indiscriminadamente, volta com tudo à causa da Ancestralidade africana.
Felizmente, há mais orixás envolvidos nos Templos da Ancestralidade do que aqueles listados pelas agências de turismo. Mesmo por que não se pode reduzir ao papel de folclore, uma postura e filosofia que, por exemplo, olha para o Planeta Terra dentro do universo e conclui que este é uma bola de terra exposta ao sol.
Essa é a visão do planeta em que vivemos, construída a partir de uma plataforma de Sabedoria: a terra é uma grande nave, muito nova, pela nossa contagem de tempo (4,5 bilhões de anos), imersa em um universo que lhe deu nascimento em uma das suas fases mais recentes de juventude ou maturidade.
E o que nós, humanos, somos para além de seres minúsculos agarrados com unhas e dentes aos poros dessa bola? Nada. Absolutamente nada. Não aparecemos com nenhum destaque sobre a bola vista dos Grandes Olhos do Universo. Nos confundimos com a propria superfície dessa bola, com seus sulcos, fraturas montes e depressões.
É o que isso diz o seguinte cântico:
 
          Alé máa sá

Gbai sá, Gbai sá

Alé máa sá

Gbai sá, Gbai sá

 

Tradução
 
           Alê está sempre (habitualmente, costumeiramente) se secando sob o sol

Intensamente se secando ao sol, intensamente.

Alê está sempre (habitualmente, costumeiramente) se secando sob o sol

Intensamente se secando ao sol, intensamente.
 

Para o Culto a Ancestralidade, Alé é o grande Irunmalé representado por essa enorme Bola de Terra viajando pelo cosmos, uma imensidão qua a torna tão pequena quanto esse ponto de segmento aqui no fim dessa frase.
Alé é essa bola de terra é o fundamento da existência humana, é o alento que mantém aquecido o primeiro sopro de vida do indivíduo humano enquanto aye.
E é assim também que Alé é Onilé a divindade da dádiva viva que nos dá solo e teto. E é na sequência do cântico acima que também se reverencia essa qualidade da bola terrena, catando:

 

Oyigiyigi rọ̀gún

Gbai sá, Oyigiyigi rọ̀gún

Oyigiyigi rọ̀gún

Gbai sá, Oyigiyigi rọ̀gún

 

Tradução
 
          Oyigiyigi que nos sustenta

Intensamente se secando ao sol, intensamente.

Oyigiyigi que nos sustenta
 
O termo “Oyigiyigi”, (Grande e Poderoso) é uma palavra dentre aquelas usadas como um nome atribuído a Deus, como criador de todas as coisas.
Alé é Onilé também na morte, no período pós vida terrena, por conta da sua atribuição de receptáculo coletivo dos eegun. É assim que se processa a sua eterna religação com a origem da capacidade de movimento dos Irunmalé encarnados que somos. Alé é a primeira a receber o sangue sacrificial, o ẹjẹ (ejé). Por isso, Onilé é Alé e é sempre bem-vindo por que sempre ali esteve. É por isso o cântico inicial para saudar esse Orixá reverbera essa realidade, entoando:

 

Alé Órìṣà,

Alé Bàbá O

Bàbá wá ´lé

Wá´lé Òrìṣà.

Ọlọmọ wò´lé

Bàbá´já

 

Tradução

 

Alé Orixá

Alé Pai,

Pai chega em casa

Chega em casa Pai

Pai (senhor dos filhos) olhe pela casa
 
Pai da luta

 

Referencias

1.    Oriki Olodumare Olorun;


2.    Imagem


 

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