É certamente gratificante para todo o povo de
santo ou melhor, para todos que se dedicam à causa Orixá, Vodun, Inquice e
Encantados perceber que, contrariando um curso de intolerância, as nossas
religiões seguem em franco processo de resgate das suas liturgias mais caras,
transcendendo o muro de isolamento pela “demonização” unilateral e ignorante que
lhes foi imposto pela sociedade escravista ocidental quando lhe atribuíram, em
consonância com uma agenda que lhes reserva um papel secundário ou folclórico.
Não, definitivamente não.
A “Bahia dos Orixás” que foi transformada pela
mídia ávida em um produto hibrido e reduzido a um conjunto de mimetizações tão repetidas
ao ponto de serem “vendidas” como verdadeiras, indiscriminadamente, volta com
tudo à causa da Ancestralidade africana.
Felizmente, há mais orixás envolvidos nos
Templos da Ancestralidade do que aqueles listados pelas agências de turismo. Mesmo
por que não se pode reduzir ao papel de folclore, uma postura e filosofia que,
por exemplo, olha para o Planeta Terra dentro do universo e conclui que este é
uma bola de terra exposta ao sol.
Essa é a visão do planeta em que vivemos, construída
a partir de uma plataforma de Sabedoria: a terra é uma grande nave, muito nova,
pela nossa contagem de tempo (4,5 bilhões de anos), imersa em um universo que
lhe deu nascimento em uma das suas fases mais recentes de juventude ou maturidade.
E o que nós, humanos, somos para além de seres minúsculos
agarrados com unhas e dentes aos poros dessa bola? Nada. Absolutamente nada.
Não aparecemos com nenhum destaque sobre a bola vista dos Grandes Olhos do Universo.
Nos confundimos com a propria superfície dessa bola, com seus sulcos, fraturas
montes e depressões.
É o que isso diz o seguinte cântico:
Gbai
sá, Gbai sá
Alé
máa sá
Gbai
sá, Gbai sá
Ẹ
Tradução
Intensamente se secando ao sol, intensamente.
Alê está sempre (habitualmente,
costumeiramente) se secando sob o sol
Intensamente se secando ao sol, intensamente.
Para o Culto a Ancestralidade, Alé é o grande Irunmalé representado por
essa enorme Bola de Terra viajando pelo cosmos, uma imensidão qua a torna tão
pequena quanto esse ponto de segmento aqui no fim dessa frase.
Alé é essa
bola de terra é o fundamento da existência humana, é o alento que mantém
aquecido o primeiro sopro de vida do indivíduo humano enquanto aye.
E é assim também que Alé é Onilé a divindade da
dádiva viva que nos dá solo e teto. E é na sequência do cântico acima que também
se reverencia essa qualidade da bola terrena, catando:
Oyigiyigi
rọ̀gún
Gbai
sá, Oyigiyigi rọ̀gún
Oyigiyigi
rọ̀gún
Gbai
sá, Oyigiyigi rọ̀gún
Tradução
Intensamente se secando ao sol, intensamente.
Oyigiyigi que
nos sustenta
Alé é Onilé também na morte, no período pós
vida terrena, por conta da sua atribuição de receptáculo coletivo dos eegun. É
assim que se processa a sua eterna religação com a origem da capacidade de
movimento dos Irunmalé encarnados que somos. Alé é a primeira a receber o
sangue sacrificial, o ẹjẹ (ejé). Por isso, Onilé é Alé e é sempre bem-vindo por
que sempre ali esteve. É por isso o cântico inicial para saudar esse Orixá reverbera
essa realidade, entoando:
Alé Órìṣà,
Alé
Bàbá O
Bàbá
wá ´lé
Wá´lé Òrìṣà.
Ọlọmọ wò´lé
Bàbá´já
Tradução
Alé Orixá
Alé Pai,
Pai chega em casa
Chega em casa Pai
Pai (senhor dos filhos) olhe pela casa
Pai da luta
Referencias
1.
Oriki Olodumare Olorun;
2.
Imagem
http://theconversation.com/the-source-of-up-to-half-of-the-earths-internal-heat-is-completely-unknown-heres-how-to-hunt-for-it-81524
(acessado em 11/11/18)
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