Wednesday, December 21, 2011

Na nossa Bahia, "Ko si Vodun, ko si Orisa"

Para entender o predomínio da etnia yorubá-nagô na Bahia é necessário recordar que, nas últimas décadas do tráfico negreiro, um enorme contingente de escravos dessa região foi trazido para Salvador. Nesse momento, os núcleos familiares também não foram tão desmembrados como no início da escravatura, permitindo uma maior manutenção da cultura e dos costumes. E logo esses se integraram a vida urbana da metrópole. Nos dizeres de Edison Carneiro, no clássico “Candomblés da Bahia”: "Os nagôs logo se constituíram numa espécie de elite e não encontraram dificuldade de impor à massa escrava a sua religião". E complementa: "Quanto aos negros muçulmanos (malês), uma minoria entre as minorias, que poderiam ser êmulos(rivais) dos nagôs, pelo seu sectarismo, afastavam não só os escravos como toda a sociedade branca". A própria Mãe Aninha Obá Biyi era filha de um casal de africanos da etnia grunci, os negros Aniyó e Azambiyó, mas fora iniciada no pelos nagôs da Casa Branca do Engenho Velho. A presença de Xangô, seu orixá, solidificou ainda mais as tradições iorubás em sua trajetória6 .Novamente a evidencia dos nagôs se destaca observando-se que Nina Rodrigues, um dos pioneiros da antropologia do negro africano no Brasil, desenvolveu a sua pesquisa em uma casa de candonblé nagô – o candomblé do Gantois - onde conheceu duas de suas antigas Mães - de-
Santo, a fundadora Maria Júlia da Conceição Nazaré, e sua sobrinha e sucessora, Pulcheria – as quais atribuíam ao seu candomblé uma origem unicamente iorubá-nagô. Essa opinião foi posteriormente revista pelo próprio Nina, quando tomou conhecimento da discutida obra do Coronel Ellis (e de como as teogonias daomeanas, foram influenciadas pelos sistemas de crenças de seus vizinhos iorubás. Nina escreveu, então: "Uma vez reunidos no Brasil e dominando a língua nagô, naturalmente Jejes, Txis e Gãs adotaram imediatamente as crenças e cultos iorubanos. E como depois da iorubana, é a mitologia jeje a mais complexa e elevada, antes se deve dizer que uma mitologia jeje-nagô, prevalece, e não uma mitologia puramente nagô 8.
Dado importante para efeito de localização e foco da tese que defendemos no presente trabalho, é denunciar o descaso com relação ao negro e ao Afrodescendente, abandonados a própria sorte pelo poder público antes durante e depois da experiência escravista. Sem dúvida que as vicissitudes, sejam em formas de doenças e enfermidades, sejam em formas de aflições do espírito, canalizaram as ligações dos negros com suas Divindades e respectivas hierarquias espirituais.
A consolidação de uma Cultura Afro-bahiana de base Jeje-nagô: A função social do Candomblé
Vivaldo Costa Lima ainda ressalta que “... o encontro episódico e pouco duradouro do tempo apenas 'necessário para a transação com os negreiros da Costa não seria bastante para provocar uma tão profunda. Só os pacíficos anos da convivência e do comércio vicinal é que permitem esse tipo de fenômeno. Ou, então, alianças dinásticas entre chefes de nações diferentes, fazendo com que a esposa estrangeira de um Rei trouxesse suas crenças e seus ritos para uma nova terra e aí os impusesse, por seu poder e status. Mas o processo "aculturativo" entre os nagôs e jeje se deve ter acentuado na Bahia, pelo começo do século XIX, com a participação de líderes religiosos das duas culturas em movimentos de resistência antiescravista.

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