O império francês que
fundou suas colônias no Novo Mundo de onde extraia, no século XVIII, mais da
metade dos produtos que fortaleciam a sua economia, tinha, nas vésperas da Revolução
Francesa, na colônia de Santo Domingo, nas Antilhas, uma das suas “joias” de prosperidade
inigualável nas Índias Ocidentais. Por exemplo, em 1789, a ilha é o maior produtor
mundial de açúcar e café – a colônia é responsável por metade da oferta mundial
de café. Mais de um terço do comércio exterior daquele império tem origem nas
suas colônias americanas e um em cada oito franceses vivia direta ou
indiretamente do que de lá adivinha.
O “Código Negro” de
1685, ou seja, ainda no século XVII, promulgado para "humanizar" a
relação escravagista-escravizado, punia com a morte o escravo que se insurgisse
contra o seu “mestre” (art. 33), ou que tivesse cometido roubo (art. 35). O “Código”
conhece apenas duas categorias de indivíduos - os livres e os escravos -, as
pessoas de cor livre (os mulatos livres e os negros libertos) são gradualmente
impedidos de se igualar aos brancos: eles não podem herdar títulos de nobreza,
alguns trabalhos são proibidos para eles, eles devem deferência para os
brancos (alguma semelhança com o Brasil dos nossos dias?). Então, o escravo tinha o status legal de propriedade móvel (seção
44). Essa era a “ordem cartesiana” da sociedade Mas não combinaram esse “Código” com os escravos e esse
contingente populacional não respeitou este “Código”. E a sociedade branca via a
origem dessa “rebeldia” na religião do Voodoo, simbolizada por Exu Elebara, seu
grande emblema até hoje, muito referenciado, nas Américas Central e do Norte pelo epíteto de “Papa Léba”. Os brancos insistiram no
reforço da evangelização obrigatória para os negros, mas não deu certo.
Àquela altura dos desdobramentos
de uma costumeira insurgência negra, a evolução demográfica se mostrava
francamente desfavorável aos brancos (e, mais particularmente, aos grandes
plantadores). A opulência da colônia no século XVIII atraia um número crescente
de franceses modestos que para lá iam em busca de fortuna. O número de pessoas
livres de cor aumenta ainda mais rapidamente: de um punhado no começo do
século, seu número se aproxima do número de brancos em 1788 e passam a ser bem mais numerosos que os brancos no século XVII, chegando no século seguinte, a cifra de mais de
500.000 no período pré-Revolução. O comércio negreiro estava crescendo.
No final do século XVIII, mais de 30 mil africanos pousam a cada ano nos portos
de Cap-Francais ou Port-au-Prince. É o caldeirão perfeito
para o cozimento bem-sucedido da antítese da ordem cartesiana. Já haviam ali
dois generais rebeldes negros de fama e poder de agluitinação em torno de suas respectivas
figuras: Toussaint Louverture, e Jean-Jacques Dessalines.
Em 18 de novembro de 1803, uma grande esquadra enviad por Napoleão para esmagar os insurgentes, foi derrotada na batalha de Vertières pelo General Dessalines. O ato de rendição é assinado dia seguinte em nome de Rochambeau. Os vencidos (brancos) têm dez dias para deixar a ilha e entregar a cidade de Cape Town (Cidade do Cabo). E nesse contexto que Exú-Lebá aparece como a antítese da divindade da ordem. E ai o Voodoo quebra o paradigma do mais forte e muda a história ocidental para ser mais uma vez repudiado pela ordem cartesiana das coisas.
No próximo dia 8 de agosto, uma quarta-feira, a partir das 18:00, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, o IGHB, estará promovendo o lançamento do Songbook “Exu: Exu Elebara é Vodun Léba”. Sob a autoria do Professor Mawó Adelson de Brito e grande equipe, a obra é composta por um livro e um CD. No livro, dezenove (19) cânticos e os dois (2) oríkì (que são formas de poemas de exaltação e incentivo) para Exu Elebara e para o Vodun Lebá estão gravados no CD, estão contextualizados e transcritos em èdè Yorùbá [língua Iorubá] e em Fɔngbè [língua Fon] trazendo ainda suas respectivas traduções para o Português do Brasil.
Título da obra: EXU: Ẹlẹgbára é Vɔ̀dun
Lɛgbà
Autor: Mawó Adelson de Brito
Lançamento: Dia 8 de agosto de 2018
(quarta-feira)
Local: Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia IGHB
Endereço: Praça da Piedade, Av. Joana Angélica, 43 - Salvador - BA,
Preço promocional de
lançamento: R$ 50,00
Referencias
1. Révolution haïtienne
https://fr.wikipedia.org/wiki/R%C3%A9volution_ha%C3%AFtienne
(acessado em 25/07/18);
2. Exu
mola de Jeep
http://esculturasemsaopaulo.blogspot.com/2007/11/exu-mola-de-jeep-mrio-cravo-junior.html
(acessado em 25/07/18)
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