Wednesday, July 25, 2018

Haïti: Exú Elegbara é a antítese da ordem cartesiana




O império francês que fundou suas colônias no Novo Mundo de onde extraia, no século XVIII, mais da metade dos produtos que fortaleciam a sua economia, tinha, nas vésperas da Revolução Francesa, na colônia de Santo Domingo, nas Antilhas, uma das suas “joias” de prosperidade inigualável nas Índias Ocidentais. Por exemplo, em 1789, a ilha é o maior produtor mundial de açúcar e café – a colônia é responsável por metade da oferta mundial de café. Mais de um terço do comércio exterior daquele império tem origem nas suas colônias americanas e um em cada oito franceses vivia direta ou indiretamente do que de lá adivinha.

O “Código Negro” de 1685, ou seja, ainda no século XVII, promulgado para "humanizar" a relação escravagista-escravizado, punia com a morte o escravo que se insurgisse contra o seu “mestre” (art. 33), ou que tivesse cometido roubo (art. 35). O “Código” conhece apenas duas categorias de indivíduos - os livres e os escravos -, as pessoas de cor livre (os mulatos livres e os negros libertos) são gradualmente impedidos de se igualar aos brancos: eles não podem herdar títulos de nobreza, alguns trabalhos são proibidos para eles, eles devem deferência para os brancos (alguma semelhança com o Brasil dos nossos dias?). Então, o escravo tinha o status legal de propriedade móvel (seção 44). Essa era a “ordem cartesiana” da sociedade Mas não combinaram esse “Código” com os escravos e esse contingente populacional não respeitou este “Código”. E a sociedade branca via a origem dessa “rebeldia” na religião do Voodoo, simbolizada por Exu Elebara, seu grande emblema até hoje, muito referenciado, nas Américas Central e do Norte pelo epíteto de “Papa Léba”. Os brancos insistiram no reforço da evangelização obrigatória para os negros, mas não deu certo.

Àquela altura dos desdobramentos de uma costumeira insurgência negra, a evolução demográfica se mostrava francamente desfavorável aos brancos (e, mais particularmente, aos grandes plantadores). A opulência da colônia no século XVIII atraia um número crescente de franceses modestos que para lá iam em busca de fortuna. O número de pessoas livres de cor aumenta ainda mais rapidamente: de um punhado no começo do século, seu número se aproxima do número de brancos em 1788 e passam a ser bem mais numerosos  que os brancos no século XVII, chegando no século seguinte, a cifra de mais de 500.000 no período pré-Revolução. O comércio negreiro estava crescendo. No final do século XVIII, mais de 30 mil africanos pousam a cada ano nos portos de Cap-Francais ou Port-au-Prince. É o caldeirão perfeito para o cozimento bem-sucedido da antítese da ordem cartesiana. Já haviam ali dois generais rebeldes negros de fama e poder de agluitinação em torno de suas respectivas figuras: Toussaint Louverture, e Jean-Jacques Dessalines.

Em 18 de novembro de 1803, uma grande esquadra enviad por Napoleão para esmagar os insurgentes, foi derrotada na batalha de Vertières pelo General Dessalines. O ato de rendição é assinado dia seguinte em nome de Rochambeau. Os vencidos (brancos) têm dez dias para deixar a ilha e entregar a cidade de Cape Town (Cidade do Cabo).  E nesse contexto que Exú-Lebá aparece como a antítese da divindade da ordem. E ai o Voodoo quebra o paradigma do mais forte e muda a história ocidental para ser mais uma vez repudiado pela ordem cartesiana das coisas.

No próximo dia 8 de agosto, uma quarta-feira, a partir das 18:00, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, o IGHB, estará promovendo o lançamento do Songbook “Exu: Exu Elebara é Vodun Léba”. Sob a autoria do Professor Mawó Adelson de Brito e grande equipe, a obra é composta por um livro e um CD. No livro, dezenove (19) cânticos e os dois (2) oríkì (que são formas de poemas de exaltação e incentivo) para Exu Elebara e para o Vodun Lebá estão gravados no CD, estão contextualizados e transcritos em èdè Yorùbá [língua Iorubá] e em Fɔngbè [língua Fon] trazendo ainda suas respectivas traduções para o Português do Brasil.

Título da obra: EXU: Ẹlẹgbára é Vɔ̀dun Lɛgbà

Autor: Mawó Adelson de Brito

Lançamento: Dia 8 de agosto de 2018 (quarta-feira)

Local: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia IGHB

Endereço: Praça da Piedade, Av. Joana Angélica, 43 - Salvador - BA,

Preço promocional de lançamento: R$ 50,00

 
 

Referencias

1.    Révolution haïtienne


2.    Exu mola de Jeep

No comments:

Post a Comment