No dia posterior a
eleição do Papa Francisco, o Primeiro Pontífice da Igreja Católica, nascido na
America Latina (oportunidade na qual acontece também pela primeira vez na
história dessa mesma Igreja, a eleição de um franciscano para o cargo), venho
dar continuidade a série intervenções que iniciei recentemente, nas quais cito
mulheres as quais se constituem importantes lideranças políticas, em função da
autenticidade e sabedoria demonstradas através das suas práticas diárias,
sempre pautadas pela prudência e pela determinação na busca dos seus objetivos,
os quais, invariavelmente, envolvem o bem estar do seu próximo.
Na Bahia, como é
característica do projeto europeizante tocado pelas elites brasileiras pelos últimos
512 anos da nossa história, o Candomblé, tem sido ferozmente combatido e alvo
de tentativas institucionalizadas de destruição dos seus valores,taxados como
evidencias de “primitivismo e atraso”. É oportuno enfatizar o desenrolar de uma
galvanização do referido caráter instrucional da discriminação contra o
Candomblé, enquanto símbolo das Religiões de Matrizes Africanas, a partir de
formações corporativas nas assembleias legislativas nas três esferas de decisão
regulamentar da vida nacional, com raras e louváveis exceções. Nesse cenário,
acreditem: a tarefa de conduzir o Candomblé “por esse mar de longo”, adicionando-lhe
prestígio incontestável é tarefa para poucos. É partindo da plataforma intelectual
composta por essas observações que mergulho na história dessa manifestação
religiosa-cultural da qual sou Ministro, e pedindo a benção aos meus mais
velhos,
Sua bênção meu Doté Amilton de Sogbo!: Vodun Aó!
Sua bênção Mãe Carmen!
Sua bênção Mãe Flor de
Ogun!
Sua bênção Mãe Deca de
Lemba!
A bênção Mãe Ninha Araundê,minha Comadre!
A bênção Egbon mi
Mônica Millet!
A bênção Egbon mi Jaime
Sodré!
e comento um pouco sobre a descendência instalada
no Terreiro do Gantois (do qual sou amigo e admirador antigo) a qual destaco,
sem diminuir o igual brilho de muitas outras agremiações culturais-religiosas, conhecidas
ou anônimas.
A tarefa que o Papa
Francisco tem pela frente, de “recuperar o prestígio da Igreja Católica no
mundo”, será marcada pelo caminho espinhoso da busca da conciliação de, entre
tantas vertentes, de poderosos interesses antagônicos, de opiniões conflitantes
defendidas por casas de poder dentro de uma organização administrada por
indivíduos afeitos ao saber acadêmico e à organização do poder político em
larga escala, porém, defensores de agendas marcadas por interesses corporativos,
e, talvez, distantes das propostas de evangelização pela espiritualização do
homem, salvo raras e louváveis exceções. Por isso, Deus o ajude!
Esse tipo de universo
no qual o Papa Francisco adentrou ontem, 13 de março de 2013, na condição de
líder, é, em escala reduzida, mas nem por isso menos complicada um espelho do
universo característico de qualquer organização não tão grande, nas quais os
seres humanos se associam para o exercício das suas práticas
religioso-culrurais e o Candomblé não se constituiu exceção. Em função dessas
características, seguramente, a baiana Carmem da Conceição Nazaré de Oliveira,
ou melhor, Mãe Carmem do Gantois, tem lições de vida e conhecimentos em nível das necessidades protocolares
comuns ao exercício vitorioso de uma liderança religiosa frutífera. Ou os
leitores imaginam que reunir em um mesmo espaço pessoas de tão variados níveis
da vida social do País em torno do serviço a “Orixá”, é tarefa fácil e pode ser
tocada por leigos? É tarefa para privilegiados! Tem que ser exemplo de Fé, de Firmeza,
de Maleabilidade e de Visão Política, e essas são algumas das características
mais sólidas dessa Sacerdotisa, Mulher, Mãe, Guerreira e Política, no melhor
sentido da terminologia.
Mãe Carmem de Oxalá é a Iyalorixá do Terreiro do
Gantois, aqui na nossa cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Ela é a filha mais nova de Mãe
Menininha do Gantois e a irmã caçula de Mãe Cleusa Millet (já falecida). Carmem
foi iniciada no Candomblé para Oxalá, seu pai de cabeça, quando ainda era
criança e desde então, não parou mais de se aprofundar nos estudos religiosos e
fazer suas obrigações espirituais. É Ela
quem repete o que apreendeu com sua mãe, a Ialorixá Maior Mãe Meninha do
Gantois, que hoje vive no Orun, com relação aos “da casa” ou aos frequentadores
da casa, poderosos ou humildes. “Não sei se é doutor ou PhD. Todos são filhos”,
decreta, com a experiência vivenciada nos dois lados, de filha e agora de mãe,
na vida e na religião – cujas fronteiras, em sua trajetória, estão mais que
embaraçadas. Além das manifestações de afeto e respeito, ela foi agraciada pela
UNESCO, em 2010, com a Medalha dos Cinco Continentes ou da Diversidade
Cultural.
Segundo a sua filosofia de vida, “Não há futuro sem base no
passado”, Esse parece ser o lema da ialorixá que se mostra rígida com os
preceitos, devotada à família e cada vez mais atenta à vontade de Orixá.
Casou-se
jovem e mesmo assim, continuou na religião e trouxe o marido para ela. Assumiu
o posto de Iyalorixá do Gantois - Terreiro mais famoso do Brasil. Ela traz o
segredo do Axé tendo ao seu lado suas duas filhas: Mãe Ângela Oxum e Mãe Neli
de Oxossi. Carmen nunca se afastou das obrigações espirituais nem do terreiro.
Foi iniciada para Oxaguian (Oxalá jovem) aos 7 anos de idade e na infância
costumava “brincar de candomblé”, fazendo vestimentas de plantas. E mal
percebeu as brincadeiras virarem tarefas de adulto. Mãe Carmen líder o Ilê
Ìyá Omi Àse Iyámasé, o Gantois, ao lado de duas filhas biológicas, três
netos (todos iniciados), uma bisneta e muitas filhas de santo. Acrescentando os
demais frequentadores do terreiro, iniciados ou não.
Do mesmo trono de Menininha, entalhado com o símbolo da casa
– uma sobreposição de ferramentas e elementos de vários orixás –, Mãe Carmen afirma:
“A hierarquia é um fato”. Mas, quando se trata do posto que ocupa, garante:
“Não sou vaidosa”.Pela sua própria trajetória e personalidade, não há espaço
para vaidades dessa natureza. Há sim, a necessidade de muita atenção e firmeza.
“É uma responsabilidade muito grande, é preciso estar não com os seis, mas os
dez sentidos ligados. Eu sou exigente, às vezes chego a desenhar as coisas como
devem ser feitas, seguindo a tradição, o legado”, estabelece.
Carinhos, faixas e títulos servem de conforto para quem teve
de se conciliar com as incertezas internas, até enfrentar o desafio de assumir
o posto que fora da mãe, uma decisão que demorou quatro anos para ser
efetivada, em um período repleto de especulações e cobranças. No Ilê Ìyá Omi
Àse Iyámasé, localizado no Alto do Gantois, bairro da Federação, desde 1849, a
sucessão se dá por laços sanguíneos e a hierarquia segue a linhagem matriarcal:
só às mulheres é permitida a direção do templo.
Sua benção Mãe Carmen!
*Esse post é
uma homenagem a minha filha mais velha Maria das Graças (Gal) aniversariante de
hoje, a minha esposa Solange, a minha filha Silvana, feita de Ossanhe,a sua Mãe
Espiritual Araundê, (minha comadre), a minha prima Patrícia(ela sabe por que),
a minhas primas Sara e Soráia, a minha (A bençao, minha comadre).
Referencias
2. Santo
forte; Brasileiros; Acesso: http://www.revistabrasileiros.com.br/2012/03/06/santo-forte/
(acessado em: 14/03/2013);
3. 3.
Imagem: Acesso: http://alexandrelomilodo.blogspot.com.br/2009/03/terreiro-do-gantois-e-vitima-de-fraude.html
(acessado em 14/03/2013)
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